29 de dez. de 2007

Quero morrer

de Giuliano Barcelos

É isto mesmo que você leu no título: Eu quero morrer.

Na verdade, anseio morrer faz três anos, mas minhas tentativas têm sido frustradas. Já tive idéias mirabolantes, de causar inveja ao Tião Gavião, personagem do desenho Penélope Charmosa, ou ao Coiote, do desenho Papa-Léguas. Também fiz tentativas estúpidas, das quais saí um pouco machucado, mas não chegaram nem perto do meu objetivo principal, que é a morte.

Compartilho da mesma filosofia de todo tipo de suicida, apesar de me considerar de um tipo bem diferente. Creio que a morte vai trazer finalmente paz para o meu coração atribulado.

Acabo de ter uma idéia muito boa para concretizar meu intento. Após analisar meus sucessivos fracassos decidi pedir ajuda, pois cheguei à conclusão de que sou tão incompetente que nem mesmo morrer eu consigo, mais um motivo para querer a morte.

Às vezes até acho que meus planos foram frustrados porque lá no fundo eu não quero morrer. Eu preciso morrer, pois a cada dia que passa suporto menos este mundo e a mim mesmo, mas não consigo abrir mão da minha vida. Eu quero, mas não consigo, por isto necessitarei de auxílio.

E não pedirei ajuda para um qualquer um não. Tem que ser um profissional entendido do assunto. Não quero que nada dê errado e eu me torne um vivo inválido, me arrastando ou sendo carregado pelo resto da vida, ou pior, vegetando apenas.

Já escolhi meu executor, e o escolhi muito bem. Sei que ele é especialista e se preocupa em cumprir este trabalho evitando a dor de sua vítima, desde que esta não se debata muito.

Como já disse, faz três anos que quero morrer e busco isto, mas tenho falhado. Quero morrer para este mundo, pois não há nada de bom nele para mim. Quero morrer para a vaidade, que insiste em me dizer que sou mais bonito que uns, que sou mais inteligente e tenho mais conhecimento que outros e que, pelo que tenho, sou melhor.

Quero morrer para a minha soberba, que faz com que me relacione com as pessoas com ar de superioridade. Quero morrer para a minha falta de compromisso com o que creio e prego e deixar de ser um hipócrita. Quero morrer também para a minha mesquinhez, que pede misericórdia e perdão para os meus erros, mas justiça e castigo para os outros. Também desejo morrer para a minha falta de amor, que serve de contra-testemunho para aquilo que digo crer.

Talvez você entenda agora os motivos dos meus sucessivos fracassos em tentar morrer. E saiba que esta lista não se encerra por aqui.

Meu executor? Como disse, é especialista em morte. Tão especialista que até ele mesmo já morreu e é na morte dele que desejo de todo o meu coração morrer. Mas morrerei na esperança de que viverei novamente a vida do meu amado executor, porque ele vive.

Meu executor? Bem… Creio que já faz idéia de quem seja.

7 comentários:

Unknown disse...

Muito bom! Todos temos que morrer para este tipo de coisa que não enriquece em nada nossas vidas.

Lógico que eu preferiria ler um texto seu Fê, mas foi muito boa a escolha.

Beijão!
: )

Paulo S S C Castro disse...

OLá Fernanda Muito bom o Blog Viu!!! Achei ele através da reportagem na Revista Show da Fé!!!Tambem tenho um blog, se vc quizer dar uma olhada é o www.clipgospelmusic.blogspot.com
Fica com Deus!

Anônimo disse...

fêêê, vou ter que falar: ri muito com o treco do chiclete ali embaixo hahahahahahaha

Unknown disse...

Ahhhhhh mas é tão lindo seu blog!!
Os seus textos, e os que não são também!!

Anônimo disse...

Olha, eu realmente assustei quando li o título, viu? (tá, eu me impressiono fácil u.u)

Mas enfim.. Acho que todo mundo devia morrer pra esse tipo de coisa, né? E renascer pras tantas outras coisas que permanecem adormecidas ou passam desapercebidas pela gente..

Um bom domingo pra você! =D

Beijoss =***

Bianca disse...

Só porque você disse que eu nunca comento...
... eu vim dizer que você nunca escreve!
XD

Apostol disse...

Uma vez perguntaram ao escritor inglês Graham Green, o que pensava de nunca ter recebido o Prémio Nóbel. Ele simplesmente respondeu: "Há um prémio que toca a todos nós: a morte".
Muitas vezes oiço as pessoas falarem de que fulano ou cicrano foi 'castigado' com a morte. Então? E o resto do pessoal que morre também? Não, a morte não é castigo, mas um elemento natural da vida da gente.
O filósofo espanhol Miguel de Unamuno defendeu em 'Sentimiento Trágico del Hombre y de la Vida' que o suicida apenas era uma pessoa demasiado ansiosa em se encontrar com Deus. Pessoalmente não sei. E se Deus permite o suicídio, Ele lá sabe. Mas prefiro o conceito da Boa Morte: morrer na tranquilidade de estar bem com Deus e com a minha consciência: de homem e de cristão. Como não sei quando isso será, melhor que procure estar sempre na Sua Graça.